Ele decidiu 'Let it be'.
Eu decidi 'Let it bleed'.
O único problema é que quem sangra aqui, sou eu.
Depois de muitos sermões regados à cerveja e eu com vontade de pular da varanda do 18º andar, decidi que não consigo mais ficar à disposição. Não que eu tenha perdido as esperanças, mas desde o começo eu havia decidido que iria até onde eu desse conta, e uma coisa é certa, desse jeito, não dou mais.
O sofrimento que da primeira vez se revelou desesperador, agora se revela mais inerte e mais intenso.
Acho que estou recalcando.
É sempre assim. Eu sou assim.
Quando o sofrimento me veio sem esperar, eu morri. Agora que já o vi frente a frente, eu recalco.
Explico o recalque para os leigos e usarei a definição de Roudinesco, no Dicionário de Psicanálise.
Recalque: Na linguagem comum, a palavra recalque designa o ato de fazer recuar ou rechaçar alguém ou alguma coisa. Assim, é empregada com respeito a pessoas a quem se quer recusar acesso a algum país ou a um recinto específico.
Para Sigmund Freud, o recalque designa o processo que visa a manter no inconsciente todas as idéias e representações ligadas às pulsões e cuja realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo transformando-se em fonte de desprazer.
O recalque não lida com as pulsões em si, mas com seus representantes, imagens ou idéias, os quais, apesar de recalcados, continuam ativos no inconsciente, sob a forma de derivados ainda mais prontos a retornar para o consciente (...).
O recalque a qual me refiro é obviamente o de Freud, não o do senso comum, pois jamais o recalcarei da minha vida, disso não dou conta.
Recalco o sofrimento insuportável e desesperador e fico (no consciente) com a tristeza inerte.
Tudo que é recalcado do inconsciente, retorna no real na forma de sintoma.
Ainda não sei qual será o meu, só espero que não seja o sintoma-ataque-constante-a-geladeira, e no máximo um sintoma-dorzinha-de-barriga-emocional.
Há algum tempo venho vivendo o sintoma-xiita-com-pessoas-e-atitudes-babacas, mas esse eu não sei fruto de qual recalque é.
Enfim, quando souber o sintoma-bola-da-vez, conto aqui.
Enquanto isso vou recalcando...
E viva as manifestações inconscientes.
(Para o bem ou para o mal)
4 comentários:
admiro essa mulher moderna que consegue, sempre, tornar as coisas multicores e multipossíveis...admiro a poesia tirada das situações e a percepção elegante e sincera dos acontecimentos...amo muito essa mulher - que é sim moderna e real...beijo, beijo, tchau, tchau (duplicados para não perder o costume, hehe)
Texto perfeito, ando recalcando "freudemente" tbm.
Conta aí o seu sintoma!
= )
Tá refletindo na minha auto imagem!
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